É fato que um aluno, Kruger e um professor de Psicologia, Mr. Dunning, da Universidade de Cornell, próxima a Nova York, ficaram curiosos com um caso de um ladrão de banco. Ao estudar o assunto, verificou-se que o ladrão fora preso porque sua face apareceu nas câmeras de segurança da agência bancária. Ao ser preso, o ladrão perguntou como foi que o reconheceram, já que ele tinha passado em seu rosto um líquido feito com limão, usado para apagar textos em papel e documentos como o da assinatura em um cheque.
Ao observarem o comportamento do ladrão, procuraram avaliar seu comportamento do ponto de vista psicológico. Ao ser avaliado verificou-se que não era louco, não era desprovido de inteligência, não atravessava nenhuma crise psicológica. Ele apenas “não sabia que não sabia”.
Quantos de nós na vida não passamos episódios onde de fato, não sabendo que não sabemos, temos que fazer coisas acontecerem, e, é claro, não se trata de coisas ilegais. Quando não atentamos aos fatos e as evidências, quando nos deixamos nos levar pelas meras narrativas, quando, enfim, somos indolentes e não percebemos nossa parcela de responsabilidade, principalmente aquelas decorrentes de nossas funções laborais, incorremos no efeito Dunning-Kruger.
Ficamos surpresos quando não sabíamos que não sabíamos o quanto ia chover e ficamos assustados quando o nível de chuva se mostrou acima do esperado. É mais comum do que parece, o fato de que pessoas possuam tendência a acreditar que sabem mais que outros, que tem tudo sob seu controle e comando. (Paulhus & Bruce, 1990)1 afirmam que há uma tendência a errar por excesso de confiança.
Por outro lado, o seu oposto também pode ocorrer, no caso da pessoa mesmo sendo consciente de que sabe muito sobre um assunto, venha a avaliar que está no lugar errado, por ue não tem o conhecimento que a posição exige para um bom desempenho. Assim, como somos péssimos avaliadores de nós mesmos, somos também vítimas de nossas imperfeições. De fato, não somos capazes de tudo, sequer podemos afirmar que tudo o que fazemos ou fizemos é ou foi certo.
Daí, basta que façamos o necessário e suficiente para mitigar situações que se mostram fora de controle, que permanecem silenciosas até nova e exuberante demonstração de poder. A leniência não é bom caminho, muito menos boa conselheira. É preciso controlar para não cair na vereda que caiu, Mr. Wheeler, o ladrão, ao constatar que não sabia que não sabia que sua conclusão era falsa. A tinta funciona com papel, mas não funciona para esconder rostos de câmeras.
Assim, também o silencio não é boa solução. Há coisas que não se resolvem por si. A cidade tem cicatrizes desde 1988. Por exemplo, há um trecho de margem do rio Palatinato ao lado da Rua Visconde do Bom Retiro que recebeu um pequeno volume de asfalto circulando o perigo e lá está ele até hoje.
Esse efeito Dunning2-Kruger é mais visível nos domínios onde a pessoa julga saber muito ou o suficiente, mas age descartando a necessária inspeção das evidências. Talvez por já ter criado automatismos perigosos uma vez que estes podem não se adaptar às novas circunstâncias ambientais. Pilotos de automóveis, cozinheiros experientes, guardas de trânsito, pedreiros, todos nós esquecemos algo em algum momento. Quem nunca foi da sala ao quarto e lá perguntou o que estava fazendo lá. Assim é o efeito. Ele pode ser fruto da megalomania, ou da segurança excessiva, até mesmo da falta de controle sobre a tarefa ou titubear na acurácia do próprio processo cognitivo que conduz suas interpretações da realidade.
Ficam aqui algumas dicas para ajudar nestes momentos que virão:
1 – Fazer o certo nunca é fácil;
2 – Fazer o necessário nem sempre é suficiente;
3 – Haverá desafios que superam nossas capacidades, sejamos resilientes e aprendamos com isso;
4 – Somos mais se cooperarmos.
Essas são diretivas importantes para não incorrermos na Síndrome do Céu Azul.
Autores citados
1Paulhus, D. L., & Bruce, N. (1990). Validation of the OCQ: An initial study. Presented at the meeting of Canadian Psychological Association, Ottawa, June 1990.
2Dunning, David (2011). The Dunning–Kruger Effect: On Being Ignorant of One\\\'s Own Ignorance. Advances in Experimental Social Psychology (em inglês). 44. [S.l.]: Academic Press. pp. 247–296. ISBN 9780123855220. doi:10.1016/B978-0-12-385522-0.00005-6