Primeiro, é preciso entender a motivação para a Psicoterapia. Quando pensamos que não temos ainda uma questão clara a resolver, é preciso desafiar essa crença, posto que esse posicionamento de dúvida pode ser um véu que esconde a causa real, residente no inconsciente, da inspeção clara do intelecto consciente. Segundo, permanecendo sem uma definição clara, o paciente deve passar a prestar a atenção nos seus pensamentos que vem de fluxo automático do inconsciente (memória implícita) para o consciente.Então, é preciso separar questões existenciais, daquelas questões objetivas. A TCC aborda o paciente como quem trás uma árvore de problemas, onde os mais fáceis estão nas folhas e o mais profundo no tronco ou na raiz. Assim, começa a produzir efeito quase de imediato, quando o problema é folha, e demanda mais tempo quando está nos galhos ou no tronco ou na raiz. Essa metáfora é importante, pois na Psicanálise clássica, espera-se que o paciente, através da livre associação, estimulado pelo trabalho do psicanalista, chegue à raiz dos problemas e de lá derrube toda a árvore. Isto pode levar mais tempo, pois se trabalha no tempo exclusivo do paciente. Na Psicanálise de Lacan, o tempo terapêutico é quando o analista percebe que chegou num ponto importante para o analisando e então faz uma consideração, uma pontuação, dispensando o paciente a partir daí da seção para que reflita sobre o assunto pontuado. Isso pode acontecer nos primeiros cinco minutos de uma sessão. Na Psicologia Humanista, o terapeuta, usa o conceito de Centramento na Pessoa, ou seja, a partir da Pessoa e em seu próprio benefício, o psicólogo atua nos problemas por ela revelados e é a Pessoa quem tem a missão de resolver o problema. Se a pessoa resolveu bem ,ok, se resolveu parcialmente a missão continua... assim a alta fica também deslocada no tempo, enquanto o terapeuta, e o paciente é claro, não se derem conta de que não há mais o que ser explorado no caminho da terapia. Isto em tese, pois cada caso é um caso e o trabalho, portanto, precisa ser ao estilo sob medida. Na Psicologia Analítica de Jung, o que muda em relação à Psicanálise de Freud e associados, é a questão cultural, que constitui a sede de um conjunto de crenças utilizado pelo paciente em suas interações com o real. Na terapia junguiana o paciente tem o inconsciente definido em duas categorias, a individual, representada pelos complexos que possui, e o que é de si que ele não conhece (a sombra), e o coletivo representado pelos seus arquétipos e pelo modo como aprendeu a lidar com eles. Neste tipo de terapia, o paciente é levado a compreender que ele age segundo determinantes pessoais e culturais. Daí deve surgir uma nova pessoa que sabe de si e o que deve ser para seu mundo. Não se pode esperar que um objetivo desse se consiga de imediato ou em tempo curto. Na terapia comportamental clássica, se procura oferecer reforços positivos em caso de sucesso na obtenção de solução e se o problema persiste se busca aplicar reforços negativos para remissão do comportamento problemático. Essa sim, tem caráter superficial e focado exclusivamente no problema. Na conceituação de Aaron Beck, o cognitivo é entendido como primaz em relação ao emocional. Isto significa que é o modo como a pessoa interpreta o real que a faz sofrer, não o real em si. O trabalho terapêutico é desafiar as crenças e verificar, o quanto elas estão arraigadas no cognitivo da pessoa. Há crenças centrais e crenças intermediárias, há pensamentos automáticos disfuncionais e funcionais, há estratégias compensatórias para corroborar o sistema de crenças, os esquemas que a pessoa usa em seu processo de solução de problemas. Quando o problema é digamos superficial, focal, e pouco enraizado, resolve-se rápido, mas quanto mais profunda estiver a raiz dos seus problemas mais tempo se leva. A TCC pode não ser indicada para algumas pessoas, mas os terapeutas cognitivos comportamentais devem conhecer quais terapias podem ser mais eficientes e quem as faz muito bem para poder indicar seu paciente, e essa indicação pode acontecer logo nas sessões iniciais. Terapeutas cognitivos comportamentais trabalham com estrutura definida, com método estruturado, com a visão de tempo controlado. Por isso a idéia erronea de que esses terapeutas tem uma só caixa de ferramentas à procura de problemas que possam ser resolvidos por ela. Isto é, TCC é para problemas superficiais, é para quem tem um só foco a resolver... etc... Minha experiência, por ter conhecido e experimentado, as técnicas da Psicanálise de Lacan, a técnica da Psicologia Analítica de Jung, a técnica humanista da Análise Transacional, a técnica Behaviorista (comportamental pura) e ter preferido a TCC para uma especialização profunda reside no fato de perceber que Aaron Beck, enquanto psicanalista não se contentou em refletir seu trabalho apenas nos conhecimentos freudianos. Foi mais longe e submeteu os conhecimentos ao crivo do laboratório, do pensamento científico e os estendeu, isto é, aliou a questão do comportamento observável (behaviorismo) ao cognitivo (psicanalítico). Poucos conhecem de fato, e em profundidade, os trabalhos de Beck. Muitos ainda utilizam da doxa para sustentar seus argumentos. Preferi o logos, e hoje atuo com psicologia cognitiva na faculdade,, estudando a aprendizagem mediada de Feuerstein, que é minha contribuição à aprendizagem de solução de problemas que meus pacientes farão para que, eles mesmos, ao aprenderem autoterapia, possam localizar seus problemas e os resolver em grande parte sem depender mais de terapia. Você poderá dizer que essa hipótese não serve para os casos de Psicopatologia grave, como transtorno de personalidade (no jargão psicanalitico, as psicoses). Mas também é uma hipótese considerar que os psicóticos não compreendem a realidade. Para mim, a hipótese é de que a realidade, por ser por demais impositora de sofrimento, fez com que o psicótico fugisse dela. E, então, mesmo nesses casos, poderemos auxiliar no caminho de volta, se é que ele existe. Mas jamais devemos recuar diante dessas patologias (foi Sigmund Freud quem disse isso). Por que TCC ? para mim é porque: 1-Tende a ser breve e é focal, porém pode ter mais de um foco e se trabalha sobre eles com uma prioridade 2- Tende a ter custo moderado. Por que tende a ser breve, o paciente sabe que em algum momento a curto ou médio prazo, se encerrará a terapia. 3- É didática pois ensina ao paciente a resolver seus problemas sem criar outros problemas maiores.